sábado, 11 de julio de 2020

Fernando Pessoa


No tengas nada en las manos

Ni una memoria en el alma,

Que cuando te pusieren

En las manos el óbolo último

Al abrirte las manos

Nada pueda caer.

¿Qué trono quieren darte

Que Atropo no te quite?

¿Qué laurel que no mustien

Los arbitrios de Minos?

¿Qué horas que no te tornen

Estatura de la sombra

Qué serás cuando fueres

En la noche y al fin del camino?

Coge las flores mas suéltalas

Apenas tú las mires.

Siéntate al sol. Abdica

Y sé rey de ti mismo.
































Não tenhas nada nas mãos
Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,
Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,
Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.
Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?
Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?
Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra
Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.
Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.
Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.


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