jueves, 30 de julio de 2020

Clarice Lispector

Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.”
Perdoando  Deus




Conto: "Perdoando Deus" | Clarice Lispector | 19/9/1970
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...¿Cómo puedo amar la grandeza del mundo si no puedo amar el tamaño de mi naturaleza? Mientras imagine que «Dios» es bueno por el solo hecho de que yo soy mala, no estaré amando nada: tan sólo será una forma de acusarme. Yo, que sin siquiera haberme recorrido toda ya elegí amar a mi contrario, y a mi contrario quiero llamarlo Dios. Yo, que jamás me acostumbraré a mí misma, pretendía que el mundo no me escandalizase. Porque yo, que de mí sólo logré no someterme a mí misma, pues soy mucho más inexorable que yo, pretendía recompensarme de mí misma con una tierra menos violenta que yo. Porque mientras ame a un Dios únicamente porque no me quiero a mí, seré un dado marcado y el juego de mi vida mayor no podrá realizarse. Mientras yo invente a Dios, Él no existirá.
Perdonando a Dios


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